sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Kind of blue: So what


Gravado em 1959, Kind of Blue é um dos grandes marcos da história do jazz. Mais do que por suas vendagens astronômicas a cada reedição ou por seu sucesso entre ouvintes não acostumados ao jazz moderno, o álbum é reverenciado por ser o início do chamado jazz modal. Resultado da colaboração do trompetista Miles Davis com outros grandes músicos como Bill Evans e John Coltrane, o trabalho trazia uma série de inovações em relação a escalas, voicing de acordes e na concepção harmônica.

No jazz modal as peças (e os improvisos) são baseadas em escalas, e não numa progressão de acordes. So what, música que abre o disco, é construída sobre o segundo modo da escala maior, o dórico. Ou seja, começando a escala de dó maior pela nota ré você tem uma nova relação de intervalos e uma escala com sonoridade distinta. Os dezesseis primeiros compassos estão em Ré dórico, os oito seguintes em Mib dórico e novamente oito em Ré dórico. (Clique na figura pra visualizar.)



Sobrepondo intervalos de quartas (e não de terças, com usual), o pianista Bill Evans chegou a acordes tão marcantes que ficaram conhecidos como “so what chords”. Em cima da tônica são colocadas três quartas e uma terça, formando um acorde menor com sétima menor e décima primeira.

No exemplo abaixo temos o piano e o baixo nos primeiros compassos da exposição do tema. (Clique na figura pra visualizar.)



No bandolim é necessário fazer uma única e óbvia adaptação do acorde so what: tirar uma nota para caber nas nossas quatro cordas. Tirando a quinta, mantemos as notas essenciais do acorde e os intervalos de quarta, que são a característica mais importante. (Clique na figura pra visualizar.)


Em breve voltamos a falar deste álbum.

Mais sobre Kind of Blue:
- Miles Davis Kind of Blue, editora Hal Leonard. Transcrição dos temas e solos de todos instrumentos.
- The Magic of Miles Davis, Jamey Aebersold. Livro com partituras e cd com as bases de músicas de Miles Davis, incluindo quatro das cinco faixas do Kind of Blue.
- Kind of blue: a história da obra-prima de Miles Davis, de Ashley Kahn.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Espantosa Simetria: escala de tons inteiros

Intrigantes relações de simetria são encontradas nos pequenos fractais e nos movimentos dos astros. As ciências naturais e matemáticas se deparam com uma intrincada rede de proporções e analogias que os antigos sábios resumiam em “como acima, assim abaixo”.

Na música, a grande ferramenta do pensamento geométrico é o círculo das quintas, recurso usado normalmente apenas pra se deduzir armaduras de clave, mas que pode servir a raciocínios bem mais complexos. No ciclo é possível visualizar intervalos, acordes e escalas simétricas. Para mais detalhes sobre essas relações recomendo o artigo As geometrias do sistema tonal e o mágico mundo do círculo das quintas (link abaixo).

A conversa aqui no blog será sobre algumas digitações e aplicações de escalas simétricas, acordes correspondentes por relações de simetria e algumas soluções particularmente interessantes proporcionada pela nossa afinação em quintas.

Começaremos pela escala de tons inteiros (ou hexafônica), que divide o círculo das quintas em seis partes iguais. Formada apenas de intervalos de um tom, esta escala foi muito usada pelos impressionistas franceses (principalmente por Debussy) e incorporada à linguagem musical de compositores como Garoto e Tom Jobim. Modernamente é aplicada sobre acordes dominantes, preferencialmente aumentados.

Devido a seu caráter simétrico, existem apenas duas escalas de tons inteiros. As outras serão transposições de alguma dessas duas. A escala de tons inteiros de ré é igual à de dó, começando do ré. Assim também a de mi, fá# e assim por diante. (Clique na figura para visualizar.)



No braço do bandolim temos duas opções interessantes de digitação, usando três ou quatro notas por corda. (Clique nas figuras para visualizar.)





Além da sua sonoridade peculiar, a escala de tons inteiros proporciona um ótimo exercício de mecânica, ajudando na abertura dos dedos e no maior conhecimento do braço nas regiões agudas (principalmente na digitação de quatro notas por corda).

Claro que nem sempre estes serão os melhores modelos a aplicar. Dependo do tom e da região do instrumento cordas soltas podem ser usadas ou os modelos de três e quatro notas por corda misturados. (Clique na figura para visualizar.)



Mais sobre simetria:
- As geometrias do sistema tonal e o mágico mundo do círculo das quintas, palestra do pianista e professor Turi Collura (disponível em www.turicollura.com).
- Introdução à estética musical, de Mário de Andrade.
- Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Problemas com as figuras

Como alguns notaram está havendo um problema no carregamento das imagens; às vezes elas aparecem e às vezes não. Sou novato de blogger e não sei exatamente o que está acontecendo. O que recomendo por enquanto é usar o botão F5 para recarregar a página, mesmo que não funcione sempre. Se alguém mais experiente de blogger souber como resolver a questão, por favor faça contato.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Terças e sétimas

Tocar acordes no bandolim significa eliminar notas. Como nós não podemos fazer (harmonicamente) aqueles bonitos acordes com cinco, seis vozes ou dobras de oitava, temos que nos ater às notas essenciais à eficaz caracterização do acorde e sua função.

Fazendo harmonia com o bandolim em um grupo, você pode presumir que alguém está tocando a tônica do acorde (baixo, violão, piano...). A quinta é a nota menos importante (a menos que seja uma quinta diminuta ou aumentada).

Das notas da estrutura do acorde sobram a terça e a sétima, as mais importantes, as que você não pode deixar de tocar. A terça é a nota que vai indicar o modo (maior ou menor) e a sétima vai ser responsável pela estabilidade ou instabilidade do acorde. Tocando somente a terça e a sétima já é possível sentir todo o “sabor” do acorde.

No exemplo, o standard de jazz Autumn Leaves (clique na figura para visualizar).



Esse encadeamento de vozes é particularmente interessante em cadências V7 – I ou IIm7 – V7 – I, pela boa condução que proporciona às vozes, sempre invertendo terça/sétima e sétima/terça (falaremos de condução de vozes em outras postagens). Veja na seqüência de dominantes estendidos da segunda parte de Assanhado, de Jacob do Bandolim (clique na figura para visualizar).



As conduções de terça e sétima podem ser aplicadas com a célula rítmica que o executante achar mais conveniente e mesmo em trêmulo, com efeito bastante interessante. Outra vantagem desses “acordes de duas notas” é a facilidade de mover a região onde está sendo executada a progressão. Tocando em grupo é importante evitar ocupar a mesma oitava na qual outro instrumento está fazendo a base.

Finalizando, temos esta idéia aplicada no início do tema de James, de Pat Metheny (clique na figura para visualizar). Atenção para a rítmica!



Observe que na tríade A optei pela terça e quinta, por não ter sétima. No C#m7(b5) a quinta é uma nota essencial do acorde. Aqui ela foi tirada para continuar sempre com terça e sétima.

Sobre o Conversa de Bandolim

SOBRE ESTE BLOG

O objetivo deste blog é dividir algumas idéias sobre bandolim, principalmente sobre harmonia. Minha intenção é discutir, mostrar uma visão e esperar que outras apareçam. Portanto, peço para nossa conversa comentários, opiniões, divergências, etc.

Fugiria ao objetivo do blog explicar os fundamentos de harmonia e teoria no geral (formação de escalas, acordes, funções, campo harmônico, etc.). Se alguém sentir alguma dificuldade nesse aspecto sugiro que procure um professor ou consulte um bom livro de teoria. É importante lembrar também que muitos dos conceitos expostos aqui podem facilmente ser transportados para outros instrumentos.

Então, vamos começar a conversa!