quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eugene’s trick bag – Cordas soltas em mudança de posição


Tocar no bandolim peças feitas para outros intrumentos é sempre um ótimo exercício. Ao nos depararmos com situações diferentes das usuais somos obrigados a visualizar novos caminhos e possibilidades. Seja em relação a digitação, extensão, voicings de acordes, ou qualquer outro elemento.

Eugene’s trick bag é parte da trilha sonora do filme A Encruzilhada, e é tocada no duelo entre Ralph “Karate Kid” Macchio e o protegido do Diabo (interpretado por Steve Vai, que gravou as duas partes de guitarra). Já foi dito que a peça que é uma mistura de um capriccio de Paganini, um estudo de Villa-Lobos e mais alguma contribuição do guitarrista. Fiquei então à vontade para me basear livremente em um trecho do início da música para este exercício.

A seqüência simples de arpejos deixa claro como usar cordas soltas nos saltos de posição facilita arpejos de grande extensão. Claro que existem outras possibilidades de digitação, mas fica o registro da idéia. (Clique na figura para ampliar)


Mais Eugene's Trick Bag:
- Steve Vai e Ralph Macchio no filme A Encruzilhada

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Bandolim: roqueiro, jazzista, erudito, indiano...


Estou disponibilizando uma coletânea de faixas de bandolim em contextos diferentes do choro/semelhantes que estamos acostumados a ouvir. Fiz esta seleção para meus alunos, para se familiarizarem com outros usos do instrumento, mas como este tem sido um assunto freqüente em comunidades de bandolinistas, achei que mais gente poderia se interessar. Quero deixar bem claro que meu único fim foi didático, e fiz questão de gravar apenas uma faixa de cada artista exatamente para incitar a curiosidade e estimular os interessados a procurarem conhecer mais.

Em breve falaremos aqui no blog de algumas das bandas ou artista relacionados.

A lista das músicas:

- Bill Monroe - Turkey in the straw (bandolim: Bill Monroe)
- Homer and Jethro - Take the A train (bandolim: Jethro Burns)
- Jazz Mandolin Project - Jungle Tango (bandolim: Jamie Masefield)
- Jethro Tull - A Christmas Song (bandolim: Ian Anderson)
- Led Zeppelin - The Battle of Evermore (bandolins: John Paul Jones, Jimmy Page)
- Legião Urbana - Vinte e nove (bandolim: Dado Villa-Lobos)
- Marilynn Mair & Friends - Primeiro movimento do Concerto para bandolim em Dó Maior, de Vivaldi (bandolim: Marilynn Mair)
- Maestro Alex Gregory - Variations on the devil's tricks (bandolim elétrico: Alex Gregory)
- Nelson Gonçalves - Meu vício é você (bandolim: Jacob do Bandolim)
- Oswaldo Montenegro - Bandolins (bandolim: Joel Nascimento)
- Paul McCartney - Dance tonight (bandolim: Paul McCartney)
- REM - Losing my religion (bandolim: Peter Buck)
- Rolling Stones - Sweet Virginia (bandolim: Ry Cooder)
- Shrinivas Mandolin Duo - Yaaro Ivar Yaaro (bandolim elétrico: U. Shirinivas)
- Stephanne Grappelli e David Grisman - Satin doll (bandolim: David Grisman, bandolim elétrico: Tiny Moore)
- Sub-versão - Marcha da revolução (bandolim: Hamilton de Holanda)
- Tema do Poderoso Chefão (bandolim: Laurindo de Almeida)
- Yank Rachell – Cigarette blues (bandolim: Yank Rachell)
- Zélia Duncan - Dream a little dream of me (bandolim: Hamilton de Holanda)

O link para o download é: http://rapidshare.com/files/114866207/bandolim_diversos.rar.html

P.S. : existem várias referências sobre Laurindo de Almeida ser o bandolinista que toca o tema do Poderoso Chefão, inclusive no recente documentário “Laurindo de Almeida, muito prazer”. No entanto nunca consegui achar isso numa fonte “oficial” (capa de disco, site de gravadora, etc). Se alguém puder confirmar ou derrubar esta história, por favor comunique.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Espantosa simetria: dominantes substitutos

Dominante substituto é o acorde maior com sétima que tem o mesmo trítono (intervalo de três tons que causa a tensão) de outro dominante e, portanto, pode exercer a mesma função. Está localizado um semitom acima do acorde alvo. (Clique na figura para visualizar).




O trítono (intervalo que os dois dominantes têm em comum) divide exatamente no meio a oitava. No círculo das quintas é possível achar duas notas separadas por esse intervalo simplesmente traçando uma linha reta no círculo (mais detalhes no já citado artigo As geometrias do sistema tonal e o mágico mundo do círculo das quintas , de Turi Collura).
Também as fundamentais dos acordes dominantes que têm o mesmo trítono estão a três tons de distância. Como no exemplo acima, Sol está a três tons de Réb.

A tensão mais característica do dominante substituto é a quarta aumentada, cifrada como #11. Como essa nota cria um semitom com a quinta, uma boa pedida é substituir a quinta pelo #11. Bom para nós bandolinistas, que temos um acorde apenas com quatro notas: tônica, terça maior, quarta aumentada e sétima menor. Seguindo sempre nossa regra de economia de movimentos e notas no bandolim, o interessante é perceber que um mesmo modelo serve para dois acordes simétricos, pois as notas são exatamente as mesmas.

G7(#11): Sol Si Do# Fá

Db7(#11): Réb Fá Sol Dób

Veja a aplicação no exemplo abaixo: (Clique na figura para visualizar).



O uso de notas além das da tétrade possibilita um enriquecimento da harmonia e abre possibilidades de conduções de vozes diferentes no bandolim. Em posts futuros falaremos sobre como formas práticas de usar as extensões dos acordes no bandolim, mas já ficam aqui alguns exemplos de como “envenenar” uma harmonia. Tente substituir uma passagem de IIm5 V7 I7M por alguma das sugestões abaixo e veja o resultado.
(Clique na figura para visualizar).

sexta-feira, 14 de março de 2008

Kind of blue: Freddie Freeloader


Voltamos a falar do Kind of Blue e do gênio de Miles Davis. Certamente a faixa menos melancólica e reflexiva do álbum, Freddie Freeloader é uma homenagem a um “malandro” nova-iorquino amigo dos músicos. Apoiados numa estrutura de blues com abordagem jazzística, os músicos usam como sonoridade principal a escala lídia b7 (ou mixolídia #4), quarto modo da escala menor melódica. (Clique na figura para visualizar.)



O tema exposto pelos sopros é um ótimo exemplo de economia de notas e boa condução de vozes, princípios essências para pensar harmonia no bandolim. Adaptando o tema para nosso instrumento, tiramos lições interessantes. (Clique na figura para visualizar.)



Nos oito primeiros compassos é fácil perceber como executar de forma inteligente acordes de seis notas usando apenas três cordas do bandolim. Com a mudança da posição dentro de um mesmo compasso é possível tocar todas as notas do acorde com um movimento confortável e condução elegante.

Nos quatro compassos finais, Miles opta por usar apenas duas notas para caracterizar o acorde. Obviamente ele escolhe a terça e a sétima (ver post Terças e sétimas), aproveitando os movimentos cromáticos entre as notas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Marilynn Mair, bandolinista completa


A bandolinista Marilynn Mair lança pela Mel Bay o método The Complete Mandolinist. Como o título diz, o livro se lança à tarefa de cobrir todos os aspectos do instrumento, do básico à interpretação. Além de exercícios dos mais variados (de trêmolo, velocidade, escalas, mudança de posições, etc.), o lançamento traz uma quantidade considerável de partituras para o instrumento, inclusive muitas composições eruditas escritas para bandolim, como o concerto em dó maior, de Vivaldi, e as sonatinas em dó maior e dó menor de Beethoven.

Interessante notar também o espaço dado à música brasileira. A bandolinista tem paixão pela nossa música (pelo choro em especial) e vivência com o Brasil, fazendo parte de um grupo de choro no Rio. Resultado disso é a inclusão de Nazareth, Anacleto, Chiquinha e Callado na seleção do repertório escolhido para o estudante.

Dividido em quatro partes (Básico, Mão esquerda, Mão direita, Exercícios de Coordenação e Musicalidade) e acompanhado de um cd com 38 faixas, o trabalho é recomendado para quem quer encarar o instrumento com seriedade e conhecer as técnicas de diversos estilos.

Onde comprar: Mel Bay
Marilynn Mair: site oficial

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Frevo e acentuação


O frevo é um dos ritmos favoritos do carnaval e historicamente associado ao bandolim e à guitarra baiana, nossa irmã elétrica. Uma de suas principais características é a acentuação no contratempo, que lhe faz “saltitante” para alegria de dançarinos a mais de cem anos.

Os dois exemplos abaixo são de um compositor de frevos pouco ortodoxo, mas de genialidade incontestável: Egberto Gismonti. As acentuações estão marcadas com o sinal > . (Clique na figura para visualizar.)



Apesar de simples, acentuar o contratempo pode ser um exercício que exige concentração. No exemplo abaixo temos a escala de fá maior (tom das duas músicas acima). Normalmente usamos a palheta para baixo no tempo forte (ou na parte forte do tempo), ou seja, na primeira colcheia de um par. Com o auxílio de um metrônomo tente tocar mais forte a segunda colcheia, a tocada com palheta para cima. (Clique na figura para visualizar.)



Este “sotaque” não é exclusivo do frevo e pode ser aplicado em vários contextos (que o digam os jazzistas). Depois de conseguir firmar sua acentuação pra cima comece a usar este recurso para adicionar variedade rítmica a seus improvisos e veja o resultado.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Kind of blue: So what


Gravado em 1959, Kind of Blue é um dos grandes marcos da história do jazz. Mais do que por suas vendagens astronômicas a cada reedição ou por seu sucesso entre ouvintes não acostumados ao jazz moderno, o álbum é reverenciado por ser o início do chamado jazz modal. Resultado da colaboração do trompetista Miles Davis com outros grandes músicos como Bill Evans e John Coltrane, o trabalho trazia uma série de inovações em relação a escalas, voicing de acordes e na concepção harmônica.

No jazz modal as peças (e os improvisos) são baseadas em escalas, e não numa progressão de acordes. So what, música que abre o disco, é construída sobre o segundo modo da escala maior, o dórico. Ou seja, começando a escala de dó maior pela nota ré você tem uma nova relação de intervalos e uma escala com sonoridade distinta. Os dezesseis primeiros compassos estão em Ré dórico, os oito seguintes em Mib dórico e novamente oito em Ré dórico. (Clique na figura pra visualizar.)



Sobrepondo intervalos de quartas (e não de terças, com usual), o pianista Bill Evans chegou a acordes tão marcantes que ficaram conhecidos como “so what chords”. Em cima da tônica são colocadas três quartas e uma terça, formando um acorde menor com sétima menor e décima primeira.

No exemplo abaixo temos o piano e o baixo nos primeiros compassos da exposição do tema. (Clique na figura pra visualizar.)



No bandolim é necessário fazer uma única e óbvia adaptação do acorde so what: tirar uma nota para caber nas nossas quatro cordas. Tirando a quinta, mantemos as notas essenciais do acorde e os intervalos de quarta, que são a característica mais importante. (Clique na figura pra visualizar.)


Em breve voltamos a falar deste álbum.

Mais sobre Kind of Blue:
- Miles Davis Kind of Blue, editora Hal Leonard. Transcrição dos temas e solos de todos instrumentos.
- The Magic of Miles Davis, Jamey Aebersold. Livro com partituras e cd com as bases de músicas de Miles Davis, incluindo quatro das cinco faixas do Kind of Blue.
- Kind of blue: a história da obra-prima de Miles Davis, de Ashley Kahn.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Espantosa Simetria: escala de tons inteiros

Intrigantes relações de simetria são encontradas nos pequenos fractais e nos movimentos dos astros. As ciências naturais e matemáticas se deparam com uma intrincada rede de proporções e analogias que os antigos sábios resumiam em “como acima, assim abaixo”.

Na música, a grande ferramenta do pensamento geométrico é o círculo das quintas, recurso usado normalmente apenas pra se deduzir armaduras de clave, mas que pode servir a raciocínios bem mais complexos. No ciclo é possível visualizar intervalos, acordes e escalas simétricas. Para mais detalhes sobre essas relações recomendo o artigo As geometrias do sistema tonal e o mágico mundo do círculo das quintas (link abaixo).

A conversa aqui no blog será sobre algumas digitações e aplicações de escalas simétricas, acordes correspondentes por relações de simetria e algumas soluções particularmente interessantes proporcionada pela nossa afinação em quintas.

Começaremos pela escala de tons inteiros (ou hexafônica), que divide o círculo das quintas em seis partes iguais. Formada apenas de intervalos de um tom, esta escala foi muito usada pelos impressionistas franceses (principalmente por Debussy) e incorporada à linguagem musical de compositores como Garoto e Tom Jobim. Modernamente é aplicada sobre acordes dominantes, preferencialmente aumentados.

Devido a seu caráter simétrico, existem apenas duas escalas de tons inteiros. As outras serão transposições de alguma dessas duas. A escala de tons inteiros de ré é igual à de dó, começando do ré. Assim também a de mi, fá# e assim por diante. (Clique na figura para visualizar.)



No braço do bandolim temos duas opções interessantes de digitação, usando três ou quatro notas por corda. (Clique nas figuras para visualizar.)





Além da sua sonoridade peculiar, a escala de tons inteiros proporciona um ótimo exercício de mecânica, ajudando na abertura dos dedos e no maior conhecimento do braço nas regiões agudas (principalmente na digitação de quatro notas por corda).

Claro que nem sempre estes serão os melhores modelos a aplicar. Dependo do tom e da região do instrumento cordas soltas podem ser usadas ou os modelos de três e quatro notas por corda misturados. (Clique na figura para visualizar.)



Mais sobre simetria:
- As geometrias do sistema tonal e o mágico mundo do círculo das quintas, palestra do pianista e professor Turi Collura (disponível em www.turicollura.com).
- Introdução à estética musical, de Mário de Andrade.
- Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Problemas com as figuras

Como alguns notaram está havendo um problema no carregamento das imagens; às vezes elas aparecem e às vezes não. Sou novato de blogger e não sei exatamente o que está acontecendo. O que recomendo por enquanto é usar o botão F5 para recarregar a página, mesmo que não funcione sempre. Se alguém mais experiente de blogger souber como resolver a questão, por favor faça contato.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Terças e sétimas

Tocar acordes no bandolim significa eliminar notas. Como nós não podemos fazer (harmonicamente) aqueles bonitos acordes com cinco, seis vozes ou dobras de oitava, temos que nos ater às notas essenciais à eficaz caracterização do acorde e sua função.

Fazendo harmonia com o bandolim em um grupo, você pode presumir que alguém está tocando a tônica do acorde (baixo, violão, piano...). A quinta é a nota menos importante (a menos que seja uma quinta diminuta ou aumentada).

Das notas da estrutura do acorde sobram a terça e a sétima, as mais importantes, as que você não pode deixar de tocar. A terça é a nota que vai indicar o modo (maior ou menor) e a sétima vai ser responsável pela estabilidade ou instabilidade do acorde. Tocando somente a terça e a sétima já é possível sentir todo o “sabor” do acorde.

No exemplo, o standard de jazz Autumn Leaves (clique na figura para visualizar).



Esse encadeamento de vozes é particularmente interessante em cadências V7 – I ou IIm7 – V7 – I, pela boa condução que proporciona às vozes, sempre invertendo terça/sétima e sétima/terça (falaremos de condução de vozes em outras postagens). Veja na seqüência de dominantes estendidos da segunda parte de Assanhado, de Jacob do Bandolim (clique na figura para visualizar).



As conduções de terça e sétima podem ser aplicadas com a célula rítmica que o executante achar mais conveniente e mesmo em trêmulo, com efeito bastante interessante. Outra vantagem desses “acordes de duas notas” é a facilidade de mover a região onde está sendo executada a progressão. Tocando em grupo é importante evitar ocupar a mesma oitava na qual outro instrumento está fazendo a base.

Finalizando, temos esta idéia aplicada no início do tema de James, de Pat Metheny (clique na figura para visualizar). Atenção para a rítmica!



Observe que na tríade A optei pela terça e quinta, por não ter sétima. No C#m7(b5) a quinta é uma nota essencial do acorde. Aqui ela foi tirada para continuar sempre com terça e sétima.

Sobre o Conversa de Bandolim

SOBRE ESTE BLOG

O objetivo deste blog é dividir algumas idéias sobre bandolim, principalmente sobre harmonia. Minha intenção é discutir, mostrar uma visão e esperar que outras apareçam. Portanto, peço para nossa conversa comentários, opiniões, divergências, etc.

Fugiria ao objetivo do blog explicar os fundamentos de harmonia e teoria no geral (formação de escalas, acordes, funções, campo harmônico, etc.). Se alguém sentir alguma dificuldade nesse aspecto sugiro que procure um professor ou consulte um bom livro de teoria. É importante lembrar também que muitos dos conceitos expostos aqui podem facilmente ser transportados para outros instrumentos.

Então, vamos começar a conversa!